“O Deus Cadela” – Resenha #03

Saiu uma resenha do meu livro mais recente, “O Deus Cadela” (2018), no Acrópole Revisitada, do Luigi Ricciardi.

NUNCA TE DISSERAM QUE A LITERATURA É O ATESTADO PARA A ETERNIDADE?

Até que ponto uma história de amor mal resolvida pode levar alguém à loucura? Até que ponto a convulsão interna pelo término pode conduzir alguém a uma caçada que já parece perdida de antemão? Até que ponto a incompreensão com o término pega alguém pela mão e o joga em um abismo no qual a própria realidade pode ser questionada? O ponto, caros leitores, é a história de O deus cadela, livro de João Victor Barbosa.”

A resenha completa você pode ler AQUI.

“O Deus Cadela” – resenha #02

O Nicolas Neves, do canal “las hojas muertas y otras hojas“, fez um vídeo falando sobre o meu livro mais recente, “O Deus Cadela”, que eu publiquei há um ano.

Inscrevam-se no canal do Nicolas. Leiam o livro.

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“O Deus Cadela” – resenha #01

odc

Pouco tempo atrás o querido do Dawton, do Ser Linguagem, escreveu sua impressão de leitura ao ler meu romance mais recente, “O Deus Cadela”.

Sendo o segundo livro que leio do autor, sinto que já posso dizer que sintetizar uma história de João Victor não é uma tarefa simples. A sinopse na Amazon, por exemplo, não faz jus à complexa tarefa que é mergulhar na história de O deus cadela, contada pelo personagem-narrador Óskar, um jovem professor de educação física que se apaixona por Simone, uma mulher tão misteriosa quanto intensa. Ambos vivem uma relação avassaladora até que ela o deixa, sem muitas explicações, fazendo-o iniciar uma busca por respostas em que se confunde cada vez mais, e nós com ele, numa incursão entre onírica e sobrenatural. Nessa busca, Óskar descobre, entre outras coisas, que Simone havia morrido muito tempo antes de se conhecerem (não é spoiler, tá na sinopse).

O texto completo do Dawton pode ser lido no blog dele AQUI.

Para ler um trecho do livro clique AQUI.

Para quem tiver interesse em adquirir o livro:

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O Deus Cadela – trecho 3

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Com o tempo viajando nos dias como um jato branco de espuma no céu velado, Simone é uma personagem cada vez mais coadjuvante nos meus pensamentos, mas aquele tipo de participação ligeira que mergulha a cabeça em ecos cavernosos. Eu não sei, talvez seja minha mente vacilando vez ou outra diante da realidade penetrada no viço da memória, talvez seja minha ponderação a partir da experiência trazida pela realidade, não sei… Pode ser. É inevitável o soluço depois da morte, a que se faz incrustada na vida, mais do que aquela que se mantém difusa no esquecimento. Eu bem que queria esquecer completamente Simone, mas eu fico me perguntando “E no depois? O que vai haver para contar dos segredos?”. Seria bem capaz que eu me encontrasse outra vez no labirinto de um sentimento como este que começa a se esvair de mim, como se já não bastasse tudo o que aconteceu desde o rompimento até agora. É dor, eu sei, mas uma dor mansa, que dilacera a carne mas que depois a beija com os lábios rabiscados de batom. E a mulher assassina se retrai como se fosse inocente da matança que provocara. Mas a memória confunde às vezes, quase sempre, quero dizer. Ela funde sensatez e dúvida, morte e sexo como lava num desfiladeiro rochoso, entremeando-se às próprias rochas e, por fim, se fazendo rocha também. E eu penso em tudo, penso no abismo e nas rochas, nas pequenas coisas que sobrevivem depois da morte na boca, depois de deixar a língua amortecida com os golpes palavrosos da vertigem. E a voz de Simone, nessas vezes em que o todo da memória me recobra e me atinge num estado de espírito distraído, me diz em sussurros lascivos as muitas coisas soçobradas debaixo daquilo que eu nutri para conseguir me esquecer de tudo o que passou, e então vejo que tudo permanece lá; enquanto eu estiver vivo, tudo estará lá, do mesmo jeito que sempre esteve. As coisas só existem se são pensadas. A existência de tudo que está aqui – e até a do que não está mais e a do que virá – nada tem a ver com morte ou vida, ela consiste apenas no pensamento e no seu ato conjunto. Eu só existo em mim e na memória de quem me sabe e que, por um tempo, aqui continua, mas no depois, quando o todo for absorvido pelo esquecimento, eu não existirei mais. A palavra mesmo, ela só existe porque é falada, não? O tempo também, se ele existe é porque os relógios estão nas paredes e porque se olha para eles, porque são redondas as horas e porque nelas se trabalha muito, porque as coisas se movimentam ao redor e dentro dos relógios. Quando eles caírem das paredes, nem mesmo o tempo terá sobrado. E eu fico me perguntando o que existe fora do tempo e, ainda assim, dentro da vida. Terá tudo sobrevivido a isso? Simone com sua voz e as coisas todas que sobreviveram até agora, as coisas que ela sempre me traz através da memória. E o nome Simone, terá ele sido o quê, depois de tudo, quando tudo terá despencado com os relógios? Porque, num momento ou noutro, o jato branco de espuma irá se perder no próprio céu onde esteve desenhado.

 

***

 

Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

O Deus Cadela – trecho 2

2

 

Eu havia pedido licença do serviço. Simplesmente não tinha mais o mesmo fôlego e a mesma força para trabalhar; me cansava com muita facilidade, qualquer coisa leve me trazia uma fadiga para a beira da garganta. Com a folga eu podia descansar bastante, limpar aquela infestação de cupins debaixo da minha cama e ler mais. Fazia muito tempo que eu não lia tanto como li no período em que estive ali na pensão. Pensei em voltar para casa e pegar alguns livros que estavam lá, mas recusei a ideia. Não sei o que passou por minha cabeça ao certo, mas acreditei que eu precisava estar onde estava, que ir para casa, ainda que para uma rápida visita, poderia não ser bom, já que com certeza eu desistiria de voltar para a pensão. E depois veio a dúvida: seria preciso? Digo, voltar para a pensão. O que eu estava fazendo ali era só perder meu tempo, sabia que Simone não estava ali. Mas as perguntas, elas se acumulavam como lixo podre sobre mim, me afogando no líquido negro do desconhecido; o que era para estar ali que eu não estava vendo? Por que nada havia se materializado para mim da forma como eu acreditava que deveria? Não sei… não sei… Mas havia um impasse da minha parte em voltar atrás e esquecer de tudo. Não é possível se esquecer do que mergulha no mais profundo da nossa cabeça, aquilo que reage aos pensamentos e às lembranças como um elemento químico reagindo a outro mais nocivo. Então sabia que não poderia deixar a pensão sem resolver algumas questões. Além do mais, eu estava ficando próximo de Natanael, e isso era ótimo, porque ele tinha a chave para o lugar onde eu queria ir, ele sabia das coisas que eu queria saber, era nele que eu devia colocar meu investimento. Mas não sei… de início o achei estranho, depois algo nele foi me puxando para perto; o jeito de mexer as mãos sobre o corpo, o sorriso angulado, as palavras, os livros que lia. Certa noite me peguei observando-o dormir quando voltei do banho. Ele estava ali, na cama, deitado de barriga para cima, com um braço sobre ela, num gesto que minha mente desenhou em mim, de súbito, com afeto e mistério. E era essa coisa em relação a esse afeto por Natanael que me confundia, uma mórbida loucura, uma muito mal interpretada. Eu não sabia o que fazer. Toda vez que o via eu enxergava Simone; mãos, braços longos, costas ossudas. De repente, nessa mesma noite, ele acordou e me viu a observá-lo. Eu poderia ter desviado o olhar e me mexido, mas fiquei imóvel, como as memórias da dor e do riso, impenetráveis muros de amor e de culpa. E fiquei ali, resplandecido num sorriso que começava a se erguer nos músculos do rosto; um comedido de vozes no silêncio; noite e dia ao mesmo tempo. E Natanael sorriu de volta. O que foi? Perguntou esfregando os olhos sonolentos. Nada, respondi num sorriso um pouco mais débil, mas dedicado ainda mais àquele afeto. E mais uma vez, eu não sabia o que fazer. Acho que acabei indo dormir.

O fato é que, na procura por um livro para ler no meu período ocioso, nos fundos da mala, encontrei meu Cem anos de solidão, uma edição linda que Simone havia me dado no meu aniversário. Cheirei o livro, alisei suas páginas, respirei aquilo que era dor e era sorte, vivez na sua eterna fonte. E a dedicatória me fez respirar fundo. Deslizei a ponta dos dedos pelas palavras escritas a caneta. Estava completamente entregue ao passado outra vez. Na Praia do Cedro, ali mesmo em Ubatuba, Simone e eu num dia de sol guardado, areia como névoa e o som das ondas destruindo as risadas de algumas pessoas com suas cadeiras de praia. A noite já estava sobre o alto das nossas cabeças, mas a luz ainda se fazia no horizonte como o restante de uma festa. Antes mesmo de a escuridão alcançar a plenitude, todas as pessoas já haviam deixado a praia. E então somente nós dois. Deixamos nossas coisas sob um telhado de galho de uma árvore rasteira, abrimos nossa barraca e estendemos algumas toalhas na areia. Já havíamos trazido lenha para a fogueira e tínhamos acabado de acendê-la. Depois molhamos nossos pés na água, percorremos a orla da praia e encontramos uma tartaruga na areia. Receosos, a devolvemos ao mar, ainda que acreditássemos que não devíamos tê-lo feito. E houve momentos que até hoje ainda me parecem firmes como as rochas onde pisamos com os pés molhados; investigamos ruínas sob a água; o brilho verdejante que colhia nossos corpos quando agitávamos nossos braços. As risadas farfalhavam como o som da água. A noite foi arrastando na pele um frio estranhoso se medido nos pelos eriçados. Esquentei o corpo de Simone, beijei sua bochecha, aspirei o perfume de seu cabelo, fechei meus olhos como se me fechasse na existência de nós dois naquela praia deserta. Ela me olhou na paragem do tempo. Eu nunca mais na vida vou querer outra coisa que não seja esse sentimento acobertado nesse silêncio, disse para mim mesmo. Nossos corpos se encostaram, a superfície da água criava a sensação de que estávamos levitando na escuridão. Simone reclamou do frio e voltamos para a areia, nos sentamos em frente à fogueira, bebemos vinho, comemos salsicha e pão de alho na brasa. Sussurramos safadezas, inventamos que, dali em diante, nós dois estaríamos entregues um ao outro, palavra por palavra, dia após dia, sem olhar para trás nem para frente, só mantendo os pés no momento-instante, o átimo do agora. E que seria inevitável. Fodemos na barraca e depois dormimos com as ondas quebrando na areia próximas a nós. No outro dia de manhã, quando acordamos, já havia algumas pessoas na praia, então decidimos ir embora. Quando entramos no ônibus de volta para a cidade, Simone abriu sua mochila e me disse Ah, eu esqueci. Toma, e me entregou o Cem anos de solidão. É pra gente construir a nossa própria Macondo. Beijei a testa suada dela e sorri, agradecendo pelo presente. O mesmo sorriso se desenhava no meu rosto enquanto eu estava ali, no quarto da pensão, alisando meus dedos pelas páginas esquecidas daquele livro. E eu que acreditava que sofrer seria palavra pouca…

 

***

 

Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

O Deus Cadela – trecho 1

3

 

Coloquei meu pé sobre o tamborete enquanto Simone molhava o algodão no álcool. Quando ela começou a passar o algodão molhado no corte em meu pé, mordi a gola da minha camiseta e acabei lambendo alguns grãos de areia. Depois de fazer a assepsia e colocar um curativo no meu pé, Simone começou a passar as mãos na minha perna, tirando os grãos de areia que ainda se refugiavam nos meus pelos. Tem uma perna tão branca, ela disse. Eu apenas ri, fiquei buscando o que dizer, mas só ri. Vai vai, diz alguma coisa, porra. Ela também riu. O sorriso também é bonito, ela continuou. Pra onde tá indo essa merda? E então ela foi fazendo um carinho no meu joelho, foi deslizando a ponta do indicador pelos pelinhos da coxa e riu outra vez, abandonando minha perna e indo guardar o vidro de algodão. Eu então tirei meu pé do tamborete e, com a maior cautela possível, repousei-o sobre o tapete à beira da cama. Simone foi jogar as coisas no lixo e, quando voltou, ao invés de continuar passando as mãos na minha perna, que já estava toda eriçando os pelinhos, decidiu que era uma boa hora para passear pelo meu quarto.

Não pensa que eu faço isso sempre, não.

Isso o quê?

Isso de vir na casa de estranhos assim de cara.

Eu jamais pensaria isso de alguém como você.

Eu só vim porque você tá machucado.

Senão não viria?

Claro que não, com o sorrisinho fácil nos músculos.

Caralho, era esse sorriso que tantas vezes me matou, e eu, como se me recusasse a morrer, ou me dar por vencido – o que pode ser quase que a mesma coisa –, sempre voltava à vida depois desse embate com o sorriso de Simone, praticamente angulado e assassino. Eu sempre a vítima com a Síndrome de Estocolmo.

Simone, ela disse quando nos apresentamos enfim. Simone. Eu sorri, porque ela era tão pequena e frágil em cada expressão, e aquele nome tão cheio de todas as vísceras que se escondiam por debaixo da pele. Simone, foi ecoando em minha cabeça. Simone. E eu olhava aquela boca, aquela boca desenhada na pele com o batom enfraquecido pela maresia. Os olhos me penduravam como um cachorro na coleira tentando alcançar o sentido das coisas que são brutas dentro da própria delicadeza. Ficamos conversando sobre algumas coisas que não julgávamos importantes mas que faziam sentido serem ditas em voz alta, como se fossem curiosas por existir nas nossas bocas trêmulas pelo nervosismo do encontro primeiro. Simone parecia a Nastassja Kinski naquele filme famoso do Wim Wenders, usava uma blusinha meio rosada, uma que eu sempre via com ela a partir de então. Simone, de uma coisa que eu não encontrei um nome para comparar, não sei, talvez fosse difícil para que eu pudesse entender, ou forjar entendimento. Aquele era um daqueles momentos que só existem como se estivessem fora da vida, e mesmo assim quisessem ser abraçados por ela, a vida. E Simone, minha Nastassja Kinski.

 

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Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

“O Deus Cadela” disponível nos formatos digital e impresso

Meu novo romance, “O Deus Cadela”, está sendo lançado hoje, 17 de outubro, nos formatos digital e impresso.

Impresso / E-book

Se preferir, você pode entrar em contato comigo pelo meu e-mail para adquirir a versão impressa com o preço especial de lançamento.

Até domingo, dia 21 de outubro, o e-book estará disponível para download gratuito na plataforma da Amazon.

O livro ganhou uma espécie de book trailer que você pode ver no post anterior.

Sinopse: Após sofrer uma grande perda, Óskar conhece Simone, com quem inicia um intenso relacionamento, coberto de prazer e mistério. No entanto, sem explicação, Simone põe um fim na relação e desaparece. Buscando por respostas, Óskar descobre que Simone já estava morta antes mesmo de os dois se conhecerem. Numa trama quase onírica, em que o factível e o sobrenatural convergem num bizarro plano de fundo para o verdadeiro mistério, surge a figura do deus cadela, uma entidade que persegue Óskar nos momentos mais impenetráveis de seus atos.

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