“A Noite da Esfinge”, meu oitavo romance, já está disponível

A versão digital do meu oitavo romance, “A Noite da Esfinge”, também está disponível a partir de hoje. Ao longo do dia, até amanhã, o e-book ficará disponível para download gratuito. Para aqueles que compraram a versão impressa durante a pré-venda, os exemplares estarão sendo enviados hoje e em breve devem chegar aos seus destinos. Mais uma vez agradeço a todo mundo que colaborou com esse projeto.

Sinopse: Selma, uma mulher de meia idade, e sua mãe, uma senhora que necessita de cuidados especiais, mudam-se para um apartamento onde recentemente morreu uma senhora que deixou para trás seus inúmeros gatos, os quais, misteriosamente, desapareceram após a morte da dona. Com o passar dos dias na nova casa, Selma começa a receber a visita de gatos que surgem em sua janela, e logo os acolhe. No entanto, esse não se trata do único evento peculiar que ocorre à nova moradora. Barulhos nas paredes, um comportamento atípico dos vizinhos e a constante sensação de estar sendo observada somam-se a bizarros sonhos que Selma passa a experimentar desde o momento em que chega ao apartamento. A partir de um vórtice que vagueia entre o surreal e o macabro, a realidade vai ficando turva e intangível, levando Selma a duvidar da sua própria sanidade.

O link do e-book está AQUI.

Alguns trechos do livro e outras informações estão AQUI.

A Noite da Esfinge (Pré-venda)

Hoje começa a pré-venda do meu novo livro, “A Noite da Esfinge”, e ela irá até o dia 31/07. Quem tiver interesse em adquirir um exemplar impresso pode entrar em contato comigo por aqui: <<victorbarbosa2828@gmail.com>>

Os livros adquiridos durante a pré-venda serão enviados no dia do lançamento, que será dia 05 de setembro. Nesse dia, ficará disponível também a versão em e-book.

Os dois primeiros capítulos podem ser lidos AQUI.

“A Noite da Esfinge” nasceu como ideia para um giallo, depois algo não tão próximo disso, mas ainda preservando um tipo de essência. O que acabou saindo no fim foi o texto mais simples que eu consegui escrever, nenhum conceito, nenhuma ambição rigorosa. Acabou sendo uma história para passar o tempo, talvez.
É que andei meio fascinado, um tempo atrás, com o tarô, mais especificamente o de Marselha. Disso eu acabei pulando para a Thelema, depois de ler “O livro da Lei”, do Aleister Crowley, desenvolvedor dessa filosofia religiosa. No fim, isso tudo acabou se resumindo a algo muito pequeno dentro do livro, podendo ser percebido mais como um pano de fundo do que de fato uma inspiração, mas ainda assim fazendo parte de uma possível essência.
A verdade é que fui pulando de um ponto de partida a outro até chegar num destino bem diferente daquilo que eu tinha como meta quando comecei a pensar sobre o livro.

Para quem tiver ficado interessado, a versão impressa do livro estará com encomenda disponível até o dia 31 deste mês. Após esse período o livro estará disponível na versão digital a partir do dia de seu lançamento (05/09/2022).

🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈🐈

Romance
226 páginas
Lançamento: 05/09/2022

Outro trecho do livro novo

            Era uma noite de frio terrível. O corpo do animal estava estirado no chão, patas esticadas e olhos abertos fitando o vazio. As formigas já começavam a invadir sua boca e se aproveitar do sumo cadavérico que surgia dos mais minuciosos poros. Foi uma morte violenta, com requintes de crueldade, certamente. As marcas dos golpes, provavelmente de uma barra de ferro ou enxada, ainda se faziam perceptíveis mesmo de uma distância considerável da cena. As pegadas de sangue que circundavam o corpo eram grandes. O caminho que o sangue quase seco percorria era um cimento invadido em um ponto ou outro pelas gramíneas que cresciam sem serem interrompidas. Por vezes o vento fazia dançar a pelagem do cadáver. Nenhuma lua testemunha do ato, mas grandes nuvens chumbosas com suas caras abertas. E a única luz que se projetava sobre o ponto onde estava o cadáver era a de um poste da rua, uma luz que piscava vez ou outra seu tom amarelado. Duas mulheres se aproximaram e começaram a observar o corpo no chão, pendiam a cabeça para o lado como um cachorro tentando compreender um som desconhecido. Olhavam sem espanto e com as rugas de seus rostos pouco se mexendo, apenas tornando-se conscientes de sua presença numa quase expressão de dúvida. As mulheres respiraram fundo e, em seguida, agacharam-se as duas próximas ao corpo, percorrendo, ambas, ao mesmo tempo, as palmas de suas mãos sobre a pelagem do animal. Entreolharam-se. Uma apanhou uma faca de cozinha de dentro de seu casaco. A outra retirou de uma sacola de pano que carregava consigo feito bolsa um vasilhame guardando um líquido transparente. Sem premeditações, a faca deslizou pela barriga do cadáver e criou uma fenda carnosa pela qual se descobriram os órgãos ainda molhados e que foram arrancados um a um com muito cuidado, sendo colocados em seguida no vasilhame que continha o líquido. Estavam ali fígado, intestinos, rins, estômago, pâncreas, pulmões e coração – e, ao pegá-lo nas mãos, este último, era como se ainda pulsasse, ou se recobrasse de seu pulsar, fortalecido, querendo atirar-se daquela mão que o possuía por um brevíssimo instante de cuidado. E logo, o coração, enganado em pulsar – ou se pensar pulsante –, encontrava-se no mesmo recipiente que os outros órgãos quase vivos, mergulhados na pergunta líquida do vasilhame. A mulher que portava a faca limpou o sangue a deslizar no gume usando sua própria roupa, um vestido que chegava pouco mais abaixo dos joelhos, guardando, logo em seguida, o utensílio de volta no bolso do casaco que cobria o vestido. Depois disso, retirou de outro bolso uma agulha grossuda e uma linha igualmente grossa, começando a costurar a fenda que havia sido aberta na barriga do animal. Não demorou muito para que o curativo ficasse pronto. As mulheres então se levantaram e respiraram fundo, não se sabe se por cansaço, pela idade ou se pela sensação de se deparar com um cadáver e não poder retirar dele uma resposta, uma explicação, como se olhar os olhos naquela cara não fosse suficiente para imaginar e reinterpretar seu brilho quando vivas as duas esferas. As mulheres, uma carregando o corpo e a outra o vasilhame cheio, caminharam pelo mesmo cimento invadido pelas gramíneas e chegaram até um terreno baldio ali próximo, onde um matagal confundia a vista sobre o que havia por trás dele. A cidade como pano de fundo ainda espalhava seus pontos luminosos no breu que a partir daquele ponto era um refúgio, ou um esconderijo. As mulheres então adentraram o matagal e, após alguns metros, começaram a cavar com as próprias mãos uma cova num ponto do terreno que não podia sequer ser vislumbrado da rua. Ainda que a escuridão se projetasse ali como abrigo e que a luz mais próxima não chegasse no chão, as formigas percorriam seu trajeto noturno e outros pequenos insetos pousavam nos restos da terra, nas pedrinhas no caminho, e uma vida muito secreta e silenciosa se desvelava debaixo do manto da noite, onde tudo o que era pequeno podia ser grande, ignorando sua forma, ignorando todos os sons e toda luz. A cova logo estava pronta para receber o cadáver; fez-se um buraco não muito fundo, de modo que o corpo poderia se decompor mais rapidamente. Com as mãos ainda barrentas, uma das mulheres pegou o cadáver como se o embalasse e o colocou na cova, sussurrando a ele um secreto sem voz. Em seguida começaram a pegar a terra com as mãos em concha e a despejá-la sobre o cadáver, que aos poucos foi desaparecendo até não restar mais nenhum ponto de seu corpo à mostra. Após cobrirem a cova e se certificarem de que o local estava coberto o suficiente pelo mato ao redor, as mulheres então voltaram, com passos apressados, para o lugar de onde vieram, ainda que a rua estivesse deserta e não houvesse como ninguém as observar de onde elas estavam.

Trecho do livro novo

            Quando a encontraram, seu corpo já estava em avançado estado de decomposição; as costas das mãos haviam sido comidas pelo que disseram ser ratos, os gatos dela jamais fariam isso com ela. Nem mesmo se estivessem presos junto do corpo há dias e morrendo de fome? Não, ainda assim, não, eles poderiam muito bem ter saído dali, e, de fato, foi o que fizeram, todos eles, não havia sobrado nenhum. Os pelos ainda estavam por toda parte, mas os gatos haviam abandonado o apartamento sem vestígios; ninguém soube para onde foram e que destino tomaram após a morte da dona, uma velha muito querida por todos do prédio, sempre vinha ao pátio conversar com os vizinhos, compartilhar rotinas e aguar as plantas que eram muito grandes para deixar na janela do apartamento e por isso deixava no pátio. Quando adoeceu e já estava impossibilitada de subir e descer as escadas, ficava à janela, acenando para quem passava e conversando com os vizinhos das janelas ao redor. Ela estava ali antes de todos os outros moradores, talvez tenha chegado quando o prédio ainda era novo, havia boatos de que ele tinha sido construído no final dos anos quarenta, logo após a Segunda Guerra, mas muitas pessoas, incluindo o zelador, diziam que, na verdade, o prédio já estava de pé décadas antes da guerra. O Vila Real era um prédio de quatro andares, sem elevador, vários corredores conectando os blocos e um pequeno pátio no centro que podia servir de vista para aqueles apartamentos que não tinham nenhuma janela que dava para a rua. Apesar de muito escuro e gelado em dadas épocas do ano, o lugar estava bastante conservado e havia passado por poucas reformas ao longo do tempo, apenas questões básicas, por exemplo, a instalação de uma rede de esgoto melhor e as trocas de fiação, que vez ou outra dava algum problema, como luzes que não acendiam em determinados cômodos ou que queimavam com uma maior frequência que o normal. Além disso, o prédio estava localizado em uma área considerada privilegiada da cidade, na Santa Cecília, próximo de mercados, farmácias, a feira aos sábados, bares e padarias, e, recentemente, um pet shop. O que acabou afastando muitos moradores e possíveis moradores foi o fato de alguns apartamentos não terem um banheiro, o que forçava aqueles que o alugavam a usar o banheiro comunitário localizado ao fim do corredor do térreo, próximo à escada que levava ao pátio. Com a oferta e a procura crescendo no bairro, vários prédios novos sendo erguidos, alguns com quitinetes melhores e, inclusive, com banheiro e uma boa fiação, o que atraiu estudantes que não tinham como custear um apartamento maior e mobiliado, a não ser que alugassem um quarto em uma pensão, o prédio em questão acabou ficando cada vez mais desvalorizado e muitos de seus apartamentos ficaram vagos, os que se mantiveram ocupados foram aqueles nos quais estavam moradores de longa data e que serviam praticamente como um histórico familiar. Sendo assim, a maioria dos moradores ali era de pessoas com uma idade mais avançada, quando alguma criança ou jovem aparecia eram filhos e netos dos moradores habituais. Agora, além de toda a desvalorização do lugar e das condições nas quais ele se encontrava, o fato de uma velha ter morrido da forma como morreu nas dependências do prédio fazia com que as poucas pessoas que se interessavam em alugar um apartamento por ali mudassem rapidamente de ideia. Algumas famílias tentaram vender os apartamentos que tinham, mas sem sucesso, tirando uma família ou outra que conseguia repassar o imóvel para conhecidos. No geral, era um bom lugar para se viver, havia uma estação de metrô muito próxima, não se tratava de uma área tão violenta como as outras que tinham prédios parecidos como o em questão, e o fato de a velha ter sido encontrada morta, devorada por alguma criatura desconhecida, não um gato, não ratos, não, os dentes destes são muito pequenos para fazer o estrago que foi feito, enfim, o fato de a velha ter morrido como morreu não poderia ter muita coisa relacionada com o fato de o bairro ser um lugar seguro ou não, afinal, não havia, além dos assaltos e roubos nas redondezas até o Arouche, nada a temer, apenas coisas comuns no resto da cidade, mesmo em bairros considerados superiores e com um preço de aluguel ainda maior haveria de ter algo com o que se preocupar, diziam sempre os moradores do Vila Real. Os moradores procuravam enxergar a morte da velha como algo desconectado com a realidade em que viviam, ainda que algumas crianças e jovens da região comentassem uma coisa ou outra sobre histórias de encontros secretos durante a noite, gatos percorrendo os telhados em bando, desaparecimentos de objetos que sumiam de forma misteriosa, quase fantasiosa, diriam alguns. Há quem acreditasse também em bruxaria, que a velha era uma bruxa, mas veja, Dona Odete era uma senhora católica, não faltava uma missa de domingo, sempre com o terço na mão, isso, é claro, antes de a velhice deixar as pernas tão frágeis que as escadas haviam se transformado em perigo. Mas bruxaria… não, não Dona Odete, isso era coisa das crianças mais velhas que se estranhavam vez ou outra com os gatos, eram muitos, isso sim, sabe-se lá quantos… Uns cinquenta? Talvez até mais. E rondavam pelo prédio dia e noite, subiam nos telhados e descansavam, lambendo suas patas e observando o pátio com a vista lá de cima. Era uma visão boa, a que eles tinham, dava para ver toda a rua e também a de trás do prédio, o terreno baldio que havia na rua do lado e as janelas das casas e sobrados vizinhos. Curiosidade essa que as crianças mais velhas nutriam no decorrer da tardezinha, quando o crepúsculo se fazia erguido na vista do horizonte. Uma curiosidade um tanto mórbida, diriam alguns. E iam todos os garotos e garotas com seus binóculos a algum ponto do prédio para avistar as janelas alheias. Não no telhado, no telhado apenas os gatos, guardavam ali seu território quase como que sagrado ele fosse de fato. À noite os telhados ficavam tomados pelos bichos, de longe era possível ver os olhinhos brilhando mergulhados na escuridão como vagalumes numa mata cercada de toda a treva que uma noite sem lua pode oferecer. Talvez seja essa a razão pela qual Dona Odete havia ganhado a alcunha de bruxa pelas crianças mais velhas. E por isso então os misteriosos desaparecimentos de louças, roupas e outros itens sem valor aparente. Diziam as crianças mais ousadas que a velha mandava os gatos roubarem os objetos das pessoas para que assim ela pudesse fazer suas bruxarias, porque, sim, todo mundo sabe que é preciso ter em mãos um objeto pessoal da vítima para poder lançar qualquer tipo de feitiço sobre ela. E os gatos ganhavam outras formas quando adentravam os apartamentos alheios, havia quem acreditasse que podiam se transformar em qualquer coisa que fosse, até mesmo ganhar a forma de um humano, e que, caso você se deparasse com um gato metamorfoseado numa figura humana, havia três jeitos muito simples de saber se tratava-se de um ser humano legítimo ou não. Primeiro: era preciso observar a sua postura; gatos na forma humana estavam sempre com a coluna ereta, tal qual um garçom desses restaurantes da Oscar Freire. Segundo: deveria se atentar quanto aos olhos; um gato conseguiria facilmente se transformar em um ser humano, mas seus olhos jamais se transformavam junto, então o contato visual era extremamente necessário. Terceiro: pergunte qualquer coisa para saber o que ele dirá, desconfie do silêncio; um gato, mesmo que na forma humana, não pode de forma alguma falar, ele simplesmente não sabe como. Feito isso, seria muito fácil saber quem era de fato uma pessoa. As crianças mais novas, quando ouviam isso de seus irmãos e irmãs mais velhos, chegavam a desconfiar de qualquer um. A garotinha que morava no apartamento doze chegou até mesmo a desconfiar da própria mãe depois que ela fez uma cirurgia plástica. Vejam só essas crianças! E pra que a pobre da Dona Odete vai fazer alguma coisa pra prejudicar alguém? Ela é sempre tão boa. Nunca tratou ninguém de forma diferente, sempre muito amável. Mas os desaparecimentos misteriosos nunca foram desvendados. São os gatos, diziam as crianças mais novas também. Já outros acreditavam que se tratava apenas de crianças pregando alguma peça, o que muitas vezes elas de fato faziam. Quem não quer um bode expiatório? Diziam os pais no almoço de domingo no meio do pátio, que agora eram cada vez menos frequentes. Parece que com o passar do tempo as vidas começaram a ficar cada vez mais privadas, os moradores conhecidos iam se mudando para outros lugares, e novos iam surgindo, reclusos, antipáticos, de cara amarrada, e depois se mudavam também e novos moradores surgiam; universitários com suas turmas barulhentas, uma nova república, os filhos de antigos moradores que iam embora mais cedo ou mais tarde, deixando assim os apartamentos vagos. Ninguém quer alugar essa merda! E, com o tempo, o lugar foi se tornando uma espécie de antiguidade no meio do bairro. E desde a morte de Dona Odete, nada mais de gatos e de seus passeios nos telhados, fato que intrigou não só as crianças, mas também alguns adultos, que se questionavam para onde os bichos poderiam ter ido já que eram tantos. O estranho de tudo, que só as crianças notaram, é que os sumiços de objetos continuaram acontecendo, mesmo sem Dona Odete e seus gatos.

“A Hora da Alva” e “Sangue de Elefante” com nova edição

Quando publiquei meus dois primeiros livros, há quase dez anos, além de ser muito novo diante de todo esse cenário de publicação das coisas que eu escrevia e etc, eu também era bastante ingênuo, o que resultou em dois livros que eu não gosto e dos quais passei algum tempo tentando me esquecer, deixando ambos inacessíveis. Pouco tempo atrás, ainda relutante, comecei a aceitar o fato de que esses livros, por mais terríveis que fossem para mim, faziam parte da minha trajetória e que não fazia muito sentido esconder aquilo que me trouxe até onde estou, ainda que eu continue enxergando tudo com maus olhos. Decidi, então, pegar esses dois livros e retrabalhá-los, reescrevendo e revisando várias e várias vezes para que eles se encaixassem num formato que eu achasse, no mínimo, aceitável de ser posto em público novamente. A questão é que, à minha revelia, e para minha surpresa, algumas pessoas leram esses livros e incentivaram uma versão impressa. Passei meses me perguntando se isso seria necessário, e agora, depois de nascidos novos textos a partir daqueles antigos, publicados quase dez anos atrás, aceitei e preparei a versão impressa desses dois romances, que chegam aqui num projeto gráfico igual ao dos meus livros mais recentes, e num texto distante do que eu sou hoje, mas, ainda assim, de certa forma, inseparável dessa trajetória toda.

Quem tiver interesse em adquirir algum dos dois, ou os dois, é só entrar em contato comigo pelo meu e-mail <<victorbarbosa2828@gmail.com>>

Obrigado a todo mundo que pediu e que, misteriosamente, ainda lê as bobagens que eu escrevo! 👍

“Coxas de Veludo” já está disponível

Meu sétimo romance, “Coxas de Veludo”, já está disponível nos formatos impresso e e-book.

A ideia para o livro surgiu na mesma época em que eu estava escrevendo meu livro anterior a este, “O Deserto da Meia-Noite”, que foi publicado há exatamente 6 meses. De início era mais para eu me distrair do processo cansativo que foi a escrita do outro livro, e não era para haver nenhuma conexão entre eles, mas é fato que alguns temas acabaram sendo duplicados. Em algum momento, terminei o outro livro e estava livre para trabalhar somente neste, e foi bem divertido o processo final dele, com todas as loucuras que foram surgindo e que eu fui aceitando. No fim, acho que consegui visualizar bem o que cada um tinha para dizer e, mesmo que eles tenham sido escritos praticamente ao mesmo tempo, coisas diferentes saíram de um e de outro.

Agradeço muito a todo mundo que adquiriu o livro impresso durante a pré-venda. Quem não o fez, agora poderá ler a versão em e-book, que estará disponível para download gratuito apenas no dia de hoje (30/04). Para quem for ler a versão digital, as várias notas de rodapé do livro estão nas últimas páginas do arquivo, mas isso não é um problema, o kindle, o próprio tablet e afins ajudam com links diretos.

Sinopse: Num futuro próximo, em uma São Paulo à sua derrocada, Adonai, um vampiro de cem anos preso ao seu corpo adolescente, sai pelas ruas noturnas da cidade em busca de vítimas de quem beber o sangue e roubar as memórias. Sua vida toma um novo rumo quando ele se depara com o inexperiente Lucius, que logo se torna outra de suas vítimas. Ao adquirir as memórias do jovem, o vampiro se vê imerso na confusa sensação do primeiro amor do rapaz. Decidido a procurar pelo objeto desse amor, Adonai mergulha numa profusão de identidades ligadas às suas respectivas memórias, traçando um caminho labiríntico de vozes, cheiros e lembranças que o conduzem rumo à eternidade dentro de uma cidade em seu último suspiro.

O link para fazer o download do e-book está AQUI.

Há muito tempo, saiu um trecho do livro na Ruído Manifesto, que pode ser lido AQUI.

Coxas de Veludo (pré-venda)

Está entrando em pré-venda hoje o meu novo livro, “Coxas de Veludo”, que será lançado no dia 30 de abril. Para separar um exemplar impresso é só me mandar uma mensagem <<victorbarbosa2828@gmail.com>> Isso ajuda com os custos de impressão, já que o livro sairá sob demanda, e eu vou agradecer muito. Já a versão digital estará disponível para download gratuito no dia do lançamento (30/04).

Há muito tempo (antes mesmo da pandemia) saiu um trecho do livro na Ruído Manifesto, que por sinal você pode ler AQUI.

Por ora é só, em breve venho falar mais sobre ele. 👍

“O Deserto da Meia-Noite” já está disponível

Meu novo livro, o romance “O Deserto da Meia-Noite”, está sendo lançado hoje nos formatos impresso e digital. Foi um processo lento desde a concepção da ideia até aqui – mais de dois anos. Eu nunca tinha levado tanto tempo para escrever alguma coisa, e quase que eu me vi abandonando o projeto no meio do caminho. De alguma forma, acreditei que existisse ali algo de urgente, coletivo ou pessoal, que precisasse ser concretizado. Por vezes batia um receio quase inconsciente de que eu pudesse morrer antes de tudo ficar pronto. Mas o livro está pronto e eu ainda estou aqui.

Não sei se consegui fazer disso o que eu queria de fato fazer, mas estou satisfeito porque aproveitei tudo o que estava ao meu alcance no momento. Acabou se tornando algo muito próximo, e agora já não é mais meu. Então peço que leiam, e se puderem, divulguem, compartilhem, porque foi um trabalho e tanto até aqui. E mesmo que a escrita para mim seja um hobby que eu levo a sério, algum propósito isso haverá de ter algum dia.

Sinopse: Uma tempestade atinge uma aldeia de pescadores, mergulhando o lugar numa escuridão que dura sete dias. Após a passagem da tempestade, um nevoeiro circunda a aldeia, impedindo qualquer um de entrar ou sair dali. O medo retorna quando, todos os dias, sempre à meia-noite, criaturas saem do nevoeiro e invadem o lugar para se alimentar de seus moradores. Temendo pelas próprias vidas, um grupo se organiza a fim de encontrar uma forma de proteger a aldeia. Nesse cenário está Arlo, no limite de seus dezoito anos e de suas inseguranças e sentimentos por Bruno, um rapaz que parece ser o único a entender seu desespero em fugir daquele lugar.

Para quem comprou os exemplares impressos na pré-venda, os livros já estão sendo enviados. Infelizmente não há mais nenhum comigo. E a versão digital já está disponível <<<<<<AQUI >>>>>>

Para ler um trecho do livro >>> AQUI

Para ver o booktrailer >>> AQUI

O Deserto da Meia-Noite (pré-venda)

O meu livro “O Deserto da Meia-Noite” está entrando em pré-venda hoje e vai até o próximo domingo, 4 de outubro. Ele estará disponível nos formatos impresso e digital. Quem comprar a versão impressa (40 R$) receberá o exemplar após o dia do lançamento, que será 30 de outubro. Para quem fizer a compra do e-book, o arquivo será enviado no dia do lançamento diretamente para o kindle.
Adquirindo o livro impresso na pré-venda, você contribui com os custos da impressão, além de receber no seu e-mail, gratuitamente, o e-book do livro.

Além disso, você pode comprar, junto do livro, meus dois outros livros, “O Deus Cadela” (2018) e “O Amor Vagabundo” (2016), com um desconto especial.

O link para isso tudo está AQUI.

Trecho de “O Deserto da Meia-Noite”

            Foram sete dias dentro da tempestade. Sete dias entre a treva e o som do inferno – se ele existisse. Não há razão para um inferno se ele está vazio, as árvores sussurram. Não há razão para muita coisa; talvez para tudo exista uma quantia, ainda que pequena, de uma ausência muito grande de razão, uma obsolescência que perdura e não se gasta, viaja tranquila no tempo e se desmancha para renascer num fazer de sentidos contrários que se comungam em perfeição, assim, como se fosse um nada ressignificado, sem criar esboço nenhum para um possível entendimento. E naquele dia foi tudo assim; obsolescência, um sem sentido, as nuvens cobrindo o céu. E de repente, atravessando a escuridão, vindo por cima como num ataque de ave de rapina, a tempestade sobranceira dos vórtices de vento, e a terra se fez coisa pouca, pequena prece nas bocas; não havia nada a ser feito, nada que pudesse ser pensado ou dito. Os clarões se sobrepujavam em força às nuvens, que pareciam muito pesadas se fossem vistas de perto. E foram caindo, água e treva, todas juntas num só instante, e só pararam no fim de sete dias. Nesse período, as casas da aldeia ficaram fechadas e seus moradores, acuados, mantinham-se com os ouvidos à espera de uma trégua, como se esperassem o fim de uma batalha que há muito se combatia no front. As luzes se apagaram em certo dia e assim ficaram até que o céu estivesse limpo outra vez. Foi como se não houvesse dia nem noite, apenas um lugar fora da Terra, fora do Tempo, como se a vida existisse num outro canto do universo, numa esfera observável por um ser superior à gravidade. Nem mesmo o sussurro das árvores se fazia ouvir, era como se até mesmo elas se escondessem da treva e da água, recolhendo seus caules rijos e suas folhas verdolengas. E um misterioso sinal de fuga corroeu o todo à vista, qualquer que fosse a palavra a ser dita, a realidade a ser penetrada e observada. O chão, o céu, e também o espaço entre os dois se tornaram uma única coisa, uma escuridão que emitia um falso brilho escarlate quando um estrondo quebrava em vórtice. Alguns moradores da aldeia pensaram ser o fim, que tudo seria engolido e que só o pó restaria para contar o que havia acontecido ali.

            Arlo ficou preso na padaria com o pai. Estava segurando a pulseira da irmã que pegou do quarto da mãe naquela manhã. O silêncio costurava as bocas como é costurada a pele dos cadáveres. A negação dos olhares perdeu sua tensão quando a luz elétrica se foi, logo no primeiro dia, e Arlo pôde respirar fundo. Havia alguma coisa secreta e dócil existindo no escuro, um sopro que acalentava e punha a carne para dormir dentro da vida, como se ali, no escuro, pudesse a liberdade ter sua fome alimentada com o apagão das entrevidas, dos sentidos navegáveis pela culpa, de todas as dores que existiam quando os olhos se cruzavam e pulsavam doentes, imensos no fundo da vida. Então a respiração desacelerou, a pulsação atravessada escolheu um lado e as pontadas na nuca cessaram com a cabeça firme na parede. Arlo roçava os braços nas coxas e secava o suor como uma criança inventada já no fim da adolescência. E estava tranquilo pela primeira vez desde que a tempestade abriu sua bocarra sobre a aldeia. Seu pai bufava e rezava uma oração incompreensível. Arlo não se preocupou, manteve-se quieto em um canto do estabelecimento e tentou não fazer nenhum som. Seu pai, algumas vezes, dizia seu nome, perguntava como ele estava, mas não dizia nada além do que algum instinto primevo lhe concedia. E Arlo agradecia, abraçado na escuridão, ao imutável sentido do obscuro, à presença que esmagava mas como se esmaga uma fruta madura, ou um dedo esmagando um bolo estufado e fofo. Na casa da família, a mãe do rapaz chorava em sua prece tresloucada, rompia-se em lágrimas atropeladas pelo desespero, negando o pensamento de que tudo estaria perdido desde o início, como sempre esteve em sua vida. Arlo não pensava na mãe, nem no pai em sua frente, nem em qualquer que fosse a pessoa inventada ou sistematizada em sua mente. E por vezes era visitado pelos espíritos das fossas do bardo primeiro. Ele sentia o cheiro, ouvia sons que interpretava como o resgate de esperança dada pela morte. E se inventava isso. Mas os sussurros que antes, ao ir buscar figos no mato, ouvia, nada mais, nem mesmo centelha de vida, púrpura, rosácea, mentiras feito segredos, era só ilusão de uma vertigem que se escondia da queda, irrefutável, que não se reduzia na sua existência. Era, sim, o espírito de tudo aquilo que evitou a vida, e Arlo estendia a mão. O pai perguntava o que era aquilo, que era loucura, e o garoto não dizia nada, escutava, sorria no escuro. As silhuetas se faziam grotescos sons como esboço. O pai também ouvia, mas Arlo não sabia explicar. Eu não sei. Eu não sei. E outra vez o pai perguntava. São os espíritos que cavalgam a noite que estão pensando que é noite lá fora porque tudo se uniu numa só coisa, céu e terra se apertando e se esfregando como dois sexos se espremem em mãos e bocas e línguas de fome e desejo, secreções do inatingível. Eles estão buscando um chão para segurar enquanto sobrenadam nesse meio-nada-tudo que se perde no escuro. O pai rezava novamente o incompreensível saindo de sua boca. Arlo chorava mas os dentes à mostra, ainda que brilhassem e não se mostrassem, mordendo o escuro. Por fim conseguiu dormir, depois de dois dias acordado. No sonho, os vultos tinham a forma da água deslizando na restinga e a escuridão não se mostrava, mas sim um translúcido raiar de caras, os olhos pendurados e vivos, as bocas falando mas nenhum som. E Arlo se lembrava da irmã, ela está sentada a seus pés, olha para cima e reluz no sonho todas as lembranças enganchadas no anzol da memória, como se lá do fundo desse oceano negro as pequenas coisas que se fazem muitas sobressaíssem e festejassem a ida à superfície. E tudo se transmutava como se estivesse inerte dentro de uma outra realidade, uma sombra de toda inconsciência. De repente Arlo já nem sabia para que direção olhar, e se podia olhar, se tinha olhos de fato para ver o indizível. O que estava fora da vista eram os mesmos aqueles vultos, e ao mesmo tempo figuras obscenas se criavam nas lantejoulas da fronte absurda do sonho, como se caíssem os todos sentidos e sobrasse o susto. No de dentro, uma saudade de esticar a mão e querer puxar de volta para cá, para este, o que está preso à vida. Mas um estrondo do outro lado da janela absorveu Arlo em realidade outra vez. Ele esfregou os olhos, mas nada à vista ainda, apenas o negrume do interior da padaria. Escutou seu pai roncando em algum canto do lugar. Também ouviu um chiado do lado de fora, um ruído muito parecido como aquele que a crispação das águas no mar faz quando uma rajada de vento corta a linha entre a superfície respirável e o grossudo azul. Os mortos tomaram as ruas, o pai de Arlo disse cortando o silêncio no interior da padaria. Tá escutando esse barulho? São eles passando. Até parece que vieram buscar a gente. E por que essa fúria tamanha? o garoto pensava e logo decidia perguntar ao pai, mas este voltava a roncar e a balbuciar no sonho.

            Quando o sétimo dia chegou ao seu fim, as casas ainda se mantiveram fechadas até que houvesse a certeza por parte dos moradores de que a tempestade havia realmente se dissipado no céu. Já do lado de fora das casas, quando seus olhos se ergueram para as nuvens, os moradores perceberam a presença de uma fina faixa de céu por entre nuvens esparsas e que dançavam leves em direção à linha do mar. O chão das ruas estava coberto de lama e areia. Alguns pontos ainda estavam cobertos de poças não muito fundas mas que impediam a passagem de pedestres. Havia também, no meio das ruas, pedaços de madeira, objetos avulsos, telhas quebradas, galhos de árvores e pedaços de portas e janelas. Mas nenhum som vinha do alto. Era apenas o silêncio sendo consumado aos poucos pelas pessoas que iam saindo de suas casas e verificando as ruas, trocando palavras com seus vizinhos, investigando seus carros e seus quintais, limpando suas varandas, tentando entender o que havia acontecido ao longo daqueles sete dias. E não recebiam nenhuma resposta elucidativa em troca, apenas aquele silêncio dos céus. Então perceberam que os cachorros haviam ido embora, os gatos não corriam pelas ruas e telhados. No alto das árvores, o som de nenhum pássaro, nem mesmo as galinhas se ouvia. E os porcos? As vacas? Também não havia sinal algum deles. Pela tarde, quando os pescadores foram à orla da praia, notaram um vasto silêncio sobre as águas, o mesmo que sondava a aldeia. E perceberam que esse mesmo silêncio nadava debaixo d’água. Ao atirarem as redes ao mar, retornavam vazias, nem mesmo as algas boiavam. Era um silêncio de morte, lustroso como o mar sem ondas. E foi isso que pensaram, que estavam mortos, que haviam morrido durante os sete dias que a tempestade esteve ali e que agora estavam presos num limbo entre a vida e a morte, ou mesmo um purgatório, um lugar fora da vida, uma realidade sem sentido. Foram eles, vieram buscar a gente, dizia alguém no meio da rua, Eu ouvi eles gritando, de dentro lá de casa deu pra ouvir direitinho, Pois é, vieram atrás da gente, Se vieram atrás de nós, como é que a gente ainda tá aqui? A gente não tá mais aqui, parece que tá, mas nós não tá, É claro que não, levaram tudo, e a gente foi junto, Foi Deus castigando a gente tudo, por todo os nosso pecado, enfim veio levar a gente, Mas não levou pra lugar nenhum não porque a gente ainda tá aqui, Eu escutei tudo também, vieram fazendo uns barulho esquisito, Se a gente tá morto porque é que dá pra sentir tudo? É assim que se sente quando tá morto é?

E levantavam teorias dezenas do que poderia ter acontecido durante e depois, ali, no agora. No entanto, eram apenas perguntas, nada mais. Alguns homens foram procurar as vacas e os porcos no canto dos quintais e, não encontrando nenhum sinal deles, decidiram procurar pela mata pois acreditavam que os animais haviam se assustado com a tempestade e fugido em meio às árvores. Caminharam com facões e cordas abrindo caminho na mata como se a desbravassem. As árvores estavam estranhamente estáticas, o silêncio aludia ao de um cemitério abandonado. O único som que se podia ouvir era o dos facões cortando o que estava no meio do caminho. Temerosos do que não se ouvia, e também do que poderia ser visto, os homens andavam como que em direção a uma possível batalha contra um ser tão misterioso que não podia ser humano. De repente se criou teorias de que eram coisas de outro lugar que não desta vida. Mas não se falava muito enquanto caminhavam. Estavam atentos a qualquer ruído que não fosse provocado pelo facão em suas mãos, essas que tremiam como as de uma criança dentro da noite, perdida de sua mãe, de seu quarto no interior de uma casa conhecida. Não parecia o mesmo lugar, a mata, as próprias árvores. Era estranho para aqueles homens como tudo o que sempre esteve ali agora pudesse ser outra coisa. Foi então que, depois de alguns minutos mata adentro, começaram a respirar um ar mais gelado que o natural para aquela época do ano, ar este que os foi mergulhando numa cerração que progredia sua espessura a ponto de se transformar num nevoeiro tão denso como o sangue coagulado de um golpe. E logo estavam imersos naquela brancura. Sem saber de onde vinham e para onde estavam indo, acabaram se perdendo uns dos outros e não demorou muito para se desesperarem. Começaram a correr num surto progressivo. Pensaram estar ouvindo coisas, ou até mesmo vendo algo se mover no meio do nevoeiro. Alguns conseguiram retomar o caminho que fizeram e retornaram à aldeia, outros ninguém soube para onde foram e até então continuam perdidos. Quando os que retornaram enfim chegaram à aldeia, consumiu-se um pânico ainda maior. Outros homens pegaram seus carros e cogitaram sair dali. Tentaram usar os telefones, mas os aparelhos não funcionavam normalmente. Não havia nem mesmo luz elétrica em nenhum ponto da aldeia. Temerosos de algo ainda maior, outros moradores pegaram os carros e foram em direção à estrada. Andaram menos de dez minutos até perceberem que o mesmo nevoeiro também se fazia ali. Os pescadores entraram em suas canoas e remaram até um ponto do mar que também se encontrava com o nevoeiro. E perceberam naquele instante que até mesmo as ilhargas ao longe não eram possíveis de serem avistadas do lugar de onde antes sempre podiam ser vistas. O céu parecia não se mover. Nenhuma vida. Apenas um silêncio amortecido e o nevoeiro sitiando a aldeia. Meu deus, estamos mortos.

“O Deus Cadela” – Resenha #03

Saiu uma resenha do meu livro mais recente, “O Deus Cadela” (2018), no Acrópole Revisitada, do Luigi Ricciardi.

NUNCA TE DISSERAM QUE A LITERATURA É O ATESTADO PARA A ETERNIDADE?

Até que ponto uma história de amor mal resolvida pode levar alguém à loucura? Até que ponto a convulsão interna pelo término pode conduzir alguém a uma caçada que já parece perdida de antemão? Até que ponto a incompreensão com o término pega alguém pela mão e o joga em um abismo no qual a própria realidade pode ser questionada? O ponto, caros leitores, é a história de O deus cadela, livro de João Victor Barbosa.”

A resenha completa você pode ler AQUI.

“O que seria a eternidade senão a memória dos vivos?”

IMG_20190204_230214_715

A memória é isto: Um eco.

Sempre pensei que se alguns eventos gritassem mais alto do que outros eles chegariam mais longe no tempo, de garganta em garganta, de geração em geração.

Não quero ter filhos, então o que me sobra para que um pouco do que sou, do que fui, continue sendo? Até quando a internet estará aqui? Até quando os livros, os filmes, as músicas, as tantas histórias? Depois do fim haverá outro fim e depois mais outro?

Talvez esses ecos se entrelacem, se juntem em algo além, alguma coisa outra que não a que saiu da garganta.

Mas aqui, sim.

IMG_20180402_011945111
A saber, Belinha era muito pequena.

Belinha morreu poucos minutos depois da meia-noite do dia 27 de janeiro deste ano (2019). Foi tudo muito rápido, não deu tempo de nos prepararmos e o que ficou foi uma grande pergunta pousando no vazio. E isso se perdurou por muito tempo. Desde então fiquei querendo, tentando, me forçando a escrever algo sobre ela, sobre o que foi essa conexão entre nós e como tudo está conectado à morte – até mesmo o amor, o único a atravessá-la e sair inteiro.

Então pensei que se houvesse algum registro, ainda que ínfimo desse encontro cósmico, dessa conexão tão familiar, talvez já fosse necessário.

buo 040
Minha cama como ela geralmente fica em dias de frio. E Belinha apenas esperando eu colocá-la para cima (ela não conseguia subir sozinha porque a cama é muito alta).

Belinha passou exatos 8 anos comigo e com minha família.

b 036
Nós dois deitados na sua caminha e o cobertor rosa com o qual ela foi enterrada.

Ela nasceu em abril de 2010 e passou por maus bocados até que a adotamos e a trouxemos para casa no dia 12 de janeiro de 2011.

Desde então ela passou a estar presente em tudo; tudo o que eu vivi na minha passagem da adolescência para a vida adulta; nos períodos mais difíceis da minha saúde; em noites de frio; na passagem de um relacionamento amoroso para outro; e em absolutamente tudo o que escrevi.

Belinha dormia, majoritariamente, no meu quarto – nos dias quentes, em sua caminha, no chão; nos dias frios, em cima da cama, comigo – e, antes de amanhecer, me pedia loucamente para ir até o quarto dos meus pais, onde dormia, junto deles, em cima da cama, até a hora que meu pai acordava para ir ao trabalho.

Belinha adorava salsicha. Em meados de 2016 ela teve uma lesão na coluna e quase morreu. Nesse período, o veterinário nos aconselhou a dar o remédio que ela estava tomando dentro de um pedaço de salsicha. Desde então não conseguimos mais fazer com que ela comesse a ração sem salsicha. Por vezes ela só comia a salsicha.

Belinha gostava de sair para passear a qualquer momento do dia, mas seu horário preferido era por volta das sete da manhã, quando meu pai se levantava para ir trabalhar.

b 030

Ela nasceu de uma cachorra que já havia dado cria muitas vezes e que estava velhinha e fraca, por isso Belinha não era muito forte de saúde, o que a levou a ter uma lesão na coluna muito cedo, além de ser bastante frágil.

Nós a adotamos pois ela estava sofrendo maus tratos na casa em que ficava. Não demorou muito tempo para que meus pais a deixassem dormir em cima da cama e ela dominasse a casa toda.

Ela pesava 4 quilos.

Seu pelo era extremamente macio, mesmo para uma vira-lata.

Ela odiava o caminhão do lixo.

Ela adorava passear na pracinha.

E detestava tomar banho.

Não se importava em fazer xixi na cozinha.

Belinha era meio brava, tendo mordido a minha cara muitas vezes enquanto eu tentava beijar seu nariz. Inclusive ainda guardo uma cicatriz na boca.

Ela tinha uma tetinha faltando.

Suas perninhas da frente também eram um pouco tortas.

Ela detestava ficar sozinha em casa.

Seu bichinho preferido era um porco-espinho esgarçado que cunhamos de Yuri, e que, quando ela morreu, enterramos junto dela.

Belinha foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

belinhaa 002 (2)

Eu espero então que o mundo receba de volta essa presença que um dia veio dele próprio. Esse texto-registro é uma mera tentativa de fazer Belinha estar no mundo como um eco que não apenas meu. A partir disso, cada pensamento sobre ela, sua memória, cada palavra que eu escrever, partirá de encontro para a mesma presença no tempo.

Há sempre Belinha no que eu escrevo, sempre haverá.

O que eu tento fazer quando escrevo é preparar a garganta para gritar, dessa forma, quando eu seguir o mesmo caminho que Belinha, ainda haverá alguma presença, minha, de Belinha, para aqueles que vislumbrarem a eternidade através de nós dois.

IMG_20180131_194604803

Até um dia. Na noite ou na luz. Não devo sobreviver a mim mesmo. Sabes por quê? Parodiando aquele outro: tudo o que é humano me foi estranho.

Hilda Hilst, Rútilo nada.

“O Deus Cadela” – resenha #01

odc

Pouco tempo atrás o querido do Dawton, do Ser Linguagem, escreveu sua impressão de leitura ao ler meu romance mais recente, “O Deus Cadela”.

Sendo o segundo livro que leio do autor, sinto que já posso dizer que sintetizar uma história de João Victor não é uma tarefa simples. A sinopse na Amazon, por exemplo, não faz jus à complexa tarefa que é mergulhar na história de O deus cadela, contada pelo personagem-narrador Óskar, um jovem professor de educação física que se apaixona por Simone, uma mulher tão misteriosa quanto intensa. Ambos vivem uma relação avassaladora até que ela o deixa, sem muitas explicações, fazendo-o iniciar uma busca por respostas em que se confunde cada vez mais, e nós com ele, numa incursão entre onírica e sobrenatural. Nessa busca, Óskar descobre, entre outras coisas, que Simone havia morrido muito tempo antes de se conhecerem (não é spoiler, tá na sinopse).

O texto completo do Dawton pode ser lido no blog dele AQUI.

Para ler um trecho do livro clique AQUI.

Para quem tiver interesse em adquirir o livro:

Impresso

E-book

O Deus Cadela – trecho 3

1 (1)

 

Com o tempo viajando nos dias como um jato branco de espuma no céu velado, Simone é uma personagem cada vez mais coadjuvante nos meus pensamentos, mas aquele tipo de participação ligeira que mergulha a cabeça em ecos cavernosos. Eu não sei, talvez seja minha mente vacilando vez ou outra diante da realidade penetrada no viço da memória, talvez seja minha ponderação a partir da experiência trazida pela realidade, não sei… Pode ser. É inevitável o soluço depois da morte, a que se faz incrustada na vida, mais do que aquela que se mantém difusa no esquecimento. Eu bem que queria esquecer completamente Simone, mas eu fico me perguntando “E no depois? O que vai haver para contar dos segredos?”. Seria bem capaz que eu me encontrasse outra vez no labirinto de um sentimento como este que começa a se esvair de mim, como se já não bastasse tudo o que aconteceu desde o rompimento até agora. É dor, eu sei, mas uma dor mansa, que dilacera a carne mas que depois a beija com os lábios rabiscados de batom. E a mulher assassina se retrai como se fosse inocente da matança que provocara. Mas a memória confunde às vezes, quase sempre, quero dizer. Ela funde sensatez e dúvida, morte e sexo como lava num desfiladeiro rochoso, entremeando-se às próprias rochas e, por fim, se fazendo rocha também. E eu penso em tudo, penso no abismo e nas rochas, nas pequenas coisas que sobrevivem depois da morte na boca, depois de deixar a língua amortecida com os golpes palavrosos da vertigem. E a voz de Simone, nessas vezes em que o todo da memória me recobra e me atinge num estado de espírito distraído, me diz em sussurros lascivos as muitas coisas soçobradas debaixo daquilo que eu nutri para conseguir me esquecer de tudo o que passou, e então vejo que tudo permanece lá; enquanto eu estiver vivo, tudo estará lá, do mesmo jeito que sempre esteve. As coisas só existem se são pensadas. A existência de tudo que está aqui – e até a do que não está mais e a do que virá – nada tem a ver com morte ou vida, ela consiste apenas no pensamento e no seu ato conjunto. Eu só existo em mim e na memória de quem me sabe e que, por um tempo, aqui continua, mas no depois, quando o todo for absorvido pelo esquecimento, eu não existirei mais. A palavra mesmo, ela só existe porque é falada, não? O tempo também, se ele existe é porque os relógios estão nas paredes e porque se olha para eles, porque são redondas as horas e porque nelas se trabalha muito, porque as coisas se movimentam ao redor e dentro dos relógios. Quando eles caírem das paredes, nem mesmo o tempo terá sobrado. E eu fico me perguntando o que existe fora do tempo e, ainda assim, dentro da vida. Terá tudo sobrevivido a isso? Simone com sua voz e as coisas todas que sobreviveram até agora, as coisas que ela sempre me traz através da memória. E o nome Simone, terá ele sido o quê, depois de tudo, quando tudo terá despencado com os relógios? Porque, num momento ou noutro, o jato branco de espuma irá se perder no próprio céu onde esteve desenhado.

 

***

 

Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

O Deus Cadela – trecho 2

2

 

Eu havia pedido licença do serviço. Simplesmente não tinha mais o mesmo fôlego e a mesma força para trabalhar; me cansava com muita facilidade, qualquer coisa leve me trazia uma fadiga para a beira da garganta. Com a folga eu podia descansar bastante, limpar aquela infestação de cupins debaixo da minha cama e ler mais. Fazia muito tempo que eu não lia tanto como li no período em que estive ali na pensão. Pensei em voltar para casa e pegar alguns livros que estavam lá, mas recusei a ideia. Não sei o que passou por minha cabeça ao certo, mas acreditei que eu precisava estar onde estava, que ir para casa, ainda que para uma rápida visita, poderia não ser bom, já que com certeza eu desistiria de voltar para a pensão. E depois veio a dúvida: seria preciso? Digo, voltar para a pensão. O que eu estava fazendo ali era só perder meu tempo, sabia que Simone não estava ali. Mas as perguntas, elas se acumulavam como lixo podre sobre mim, me afogando no líquido negro do desconhecido; o que era para estar ali que eu não estava vendo? Por que nada havia se materializado para mim da forma como eu acreditava que deveria? Não sei… não sei… Mas havia um impasse da minha parte em voltar atrás e esquecer de tudo. Não é possível se esquecer do que mergulha no mais profundo da nossa cabeça, aquilo que reage aos pensamentos e às lembranças como um elemento químico reagindo a outro mais nocivo. Então sabia que não poderia deixar a pensão sem resolver algumas questões. Além do mais, eu estava ficando próximo de Natanael, e isso era ótimo, porque ele tinha a chave para o lugar onde eu queria ir, ele sabia das coisas que eu queria saber, era nele que eu devia colocar meu investimento. Mas não sei… de início o achei estranho, depois algo nele foi me puxando para perto; o jeito de mexer as mãos sobre o corpo, o sorriso angulado, as palavras, os livros que lia. Certa noite me peguei observando-o dormir quando voltei do banho. Ele estava ali, na cama, deitado de barriga para cima, com um braço sobre ela, num gesto que minha mente desenhou em mim, de súbito, com afeto e mistério. E era essa coisa em relação a esse afeto por Natanael que me confundia, uma mórbida loucura, uma muito mal interpretada. Eu não sabia o que fazer. Toda vez que o via eu enxergava Simone; mãos, braços longos, costas ossudas. De repente, nessa mesma noite, ele acordou e me viu a observá-lo. Eu poderia ter desviado o olhar e me mexido, mas fiquei imóvel, como as memórias da dor e do riso, impenetráveis muros de amor e de culpa. E fiquei ali, resplandecido num sorriso que começava a se erguer nos músculos do rosto; um comedido de vozes no silêncio; noite e dia ao mesmo tempo. E Natanael sorriu de volta. O que foi? Perguntou esfregando os olhos sonolentos. Nada, respondi num sorriso um pouco mais débil, mas dedicado ainda mais àquele afeto. E mais uma vez, eu não sabia o que fazer. Acho que acabei indo dormir.

O fato é que, na procura por um livro para ler no meu período ocioso, nos fundos da mala, encontrei meu Cem anos de solidão, uma edição linda que Simone havia me dado no meu aniversário. Cheirei o livro, alisei suas páginas, respirei aquilo que era dor e era sorte, vivez na sua eterna fonte. E a dedicatória me fez respirar fundo. Deslizei a ponta dos dedos pelas palavras escritas a caneta. Estava completamente entregue ao passado outra vez. Na Praia do Cedro, ali mesmo em Ubatuba, Simone e eu num dia de sol guardado, areia como névoa e o som das ondas destruindo as risadas de algumas pessoas com suas cadeiras de praia. A noite já estava sobre o alto das nossas cabeças, mas a luz ainda se fazia no horizonte como o restante de uma festa. Antes mesmo de a escuridão alcançar a plenitude, todas as pessoas já haviam deixado a praia. E então somente nós dois. Deixamos nossas coisas sob um telhado de galho de uma árvore rasteira, abrimos nossa barraca e estendemos algumas toalhas na areia. Já havíamos trazido lenha para a fogueira e tínhamos acabado de acendê-la. Depois molhamos nossos pés na água, percorremos a orla da praia e encontramos uma tartaruga na areia. Receosos, a devolvemos ao mar, ainda que acreditássemos que não devíamos tê-lo feito. E houve momentos que até hoje ainda me parecem firmes como as rochas onde pisamos com os pés molhados; investigamos ruínas sob a água; o brilho verdejante que colhia nossos corpos quando agitávamos nossos braços. As risadas farfalhavam como o som da água. A noite foi arrastando na pele um frio estranhoso se medido nos pelos eriçados. Esquentei o corpo de Simone, beijei sua bochecha, aspirei o perfume de seu cabelo, fechei meus olhos como se me fechasse na existência de nós dois naquela praia deserta. Ela me olhou na paragem do tempo. Eu nunca mais na vida vou querer outra coisa que não seja esse sentimento acobertado nesse silêncio, disse para mim mesmo. Nossos corpos se encostaram, a superfície da água criava a sensação de que estávamos levitando na escuridão. Simone reclamou do frio e voltamos para a areia, nos sentamos em frente à fogueira, bebemos vinho, comemos salsicha e pão de alho na brasa. Sussurramos safadezas, inventamos que, dali em diante, nós dois estaríamos entregues um ao outro, palavra por palavra, dia após dia, sem olhar para trás nem para frente, só mantendo os pés no momento-instante, o átimo do agora. E que seria inevitável. Fodemos na barraca e depois dormimos com as ondas quebrando na areia próximas a nós. No outro dia de manhã, quando acordamos, já havia algumas pessoas na praia, então decidimos ir embora. Quando entramos no ônibus de volta para a cidade, Simone abriu sua mochila e me disse Ah, eu esqueci. Toma, e me entregou o Cem anos de solidão. É pra gente construir a nossa própria Macondo. Beijei a testa suada dela e sorri, agradecendo pelo presente. O mesmo sorriso se desenhava no meu rosto enquanto eu estava ali, no quarto da pensão, alisando meus dedos pelas páginas esquecidas daquele livro. E eu que acreditava que sofrer seria palavra pouca…

 

***

 

Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

O Deus Cadela – trecho 1

3

 

Coloquei meu pé sobre o tamborete enquanto Simone molhava o algodão no álcool. Quando ela começou a passar o algodão molhado no corte em meu pé, mordi a gola da minha camiseta e acabei lambendo alguns grãos de areia. Depois de fazer a assepsia e colocar um curativo no meu pé, Simone começou a passar as mãos na minha perna, tirando os grãos de areia que ainda se refugiavam nos meus pelos. Tem uma perna tão branca, ela disse. Eu apenas ri, fiquei buscando o que dizer, mas só ri. Vai vai, diz alguma coisa, porra. Ela também riu. O sorriso também é bonito, ela continuou. Pra onde tá indo essa merda? E então ela foi fazendo um carinho no meu joelho, foi deslizando a ponta do indicador pelos pelinhos da coxa e riu outra vez, abandonando minha perna e indo guardar o vidro de algodão. Eu então tirei meu pé do tamborete e, com a maior cautela possível, repousei-o sobre o tapete à beira da cama. Simone foi jogar as coisas no lixo e, quando voltou, ao invés de continuar passando as mãos na minha perna, que já estava toda eriçando os pelinhos, decidiu que era uma boa hora para passear pelo meu quarto.

Não pensa que eu faço isso sempre, não.

Isso o quê?

Isso de vir na casa de estranhos assim de cara.

Eu jamais pensaria isso de alguém como você.

Eu só vim porque você tá machucado.

Senão não viria?

Claro que não, com o sorrisinho fácil nos músculos.

Caralho, era esse sorriso que tantas vezes me matou, e eu, como se me recusasse a morrer, ou me dar por vencido – o que pode ser quase que a mesma coisa –, sempre voltava à vida depois desse embate com o sorriso de Simone, praticamente angulado e assassino. Eu sempre a vítima com a Síndrome de Estocolmo.

Simone, ela disse quando nos apresentamos enfim. Simone. Eu sorri, porque ela era tão pequena e frágil em cada expressão, e aquele nome tão cheio de todas as vísceras que se escondiam por debaixo da pele. Simone, foi ecoando em minha cabeça. Simone. E eu olhava aquela boca, aquela boca desenhada na pele com o batom enfraquecido pela maresia. Os olhos me penduravam como um cachorro na coleira tentando alcançar o sentido das coisas que são brutas dentro da própria delicadeza. Ficamos conversando sobre algumas coisas que não julgávamos importantes mas que faziam sentido serem ditas em voz alta, como se fossem curiosas por existir nas nossas bocas trêmulas pelo nervosismo do encontro primeiro. Simone parecia a Nastassja Kinski naquele filme famoso do Wim Wenders, usava uma blusinha meio rosada, uma que eu sempre via com ela a partir de então. Simone, de uma coisa que eu não encontrei um nome para comparar, não sei, talvez fosse difícil para que eu pudesse entender, ou forjar entendimento. Aquele era um daqueles momentos que só existem como se estivessem fora da vida, e mesmo assim quisessem ser abraçados por ela, a vida. E Simone, minha Nastassja Kinski.

 

***

 

Para ler o romance completo, você pode adquirir a versão digital (AQUI) ou a impressa (AQUI).

 

“O Deus Cadela” disponível nos formatos digital e impresso

Meu novo romance, “O Deus Cadela”, está sendo lançado hoje, 17 de outubro, nos formatos digital e impresso.

Impresso / E-book

Se preferir, você pode entrar em contato comigo pelo meu e-mail para adquirir a versão impressa com o preço especial de lançamento.

Até domingo, dia 21 de outubro, o e-book estará disponível para download gratuito na plataforma da Amazon.

O livro ganhou uma espécie de book trailer que você pode ver no post anterior.

Sinopse: Após sofrer uma grande perda, Óskar conhece Simone, com quem inicia um intenso relacionamento, coberto de prazer e mistério. No entanto, sem explicação, Simone põe um fim na relação e desaparece. Buscando por respostas, Óskar descobre que Simone já estava morta antes mesmo de os dois se conhecerem. Numa trama quase onírica, em que o factível e o sobrenatural convergem num bizarro plano de fundo para o verdadeiro mistério, surge a figura do deus cadela, uma entidade que persegue Óskar nos momentos mais impenetráveis de seus atos.

;)

Guia para iniciantes na obra de Hilda Hilst

 

Hilda obra

 

Decidi – depois de muita gente que não conhecia a obra da Hilda me perguntar por onde começar a ler os livros dela – fazer uma espécie de guia para auxiliar quem decide ir por esse caminho sem volta que é a literatura de Hilda Hilst.

Trata-se de um panorama geral, tem muito mais coisa além. A safra poética, por exemplo, é bastante extensa, e o teatro quase não é lido e trabalhado.

Não é uma regra, você pode começar por onde achar melhor, tudo depende da tua capacidade intelectual e quão assíduo como leitor você é; quais autores você tem como referência, etc.

No entanto, a prosa de HH é completamente mergulhada em misticismo, filosofia e fluxos de consciência que funcionam como quebra-cabeças, sendo assim, não é uma obra de fácil assimilação e digestão. Por outro lado, a recompensa é enaltecedora.

Com toda certeza, encarar a obra de HH é um dos melhores desafios que você fará na tua vida.

~

Você pode ler o conto “Rútilo nada” AQUI.

 

“Rútilo Nada”, de Hilda Hilst

75685380501-389

Hilda Hilst (1930-2004) será a autora homenageada da FLIP em 2018 e sua obra está sendo relançada pela Companhia das Letras (em breve escreverei um texto sobre o fato de essa editora em questão decidir publicar a obra da Hilda só agora), que ano passado publicou uma reunião de toda a obra poética da autora intitulada “Da poesia”. Este ano a editora publicou uma nova reunião, mas dessa vez da obra em prosa de Hilda.

Como a obra de Hilda foi extremamente relevante para a minha formação e desenvolvimento como escritor, resolvi compartilhar aqui o conto “Rútilo Nada”, integrante da livro-reunião “Da prosa”, que a Companhia das Letras publicou há pouco.

O conto pode ser lido AQUI.

Para quem ainda não entrou em contato com a obra de Hilda, uma dica bacana é começar pela safra poética, daí partir para o teatro dela (que será relançado este ano também), e então depois se adentrar pela prosa labiríntica e mística da autora, conhecida pela profusão de vozes narrativas, fluxos de consciência e monólogos desordenados à uma primeira vista.

Mais do que nunca, a obra de Hilda precisa ser lida cada vez mais. Como a própria autora dizia: “As pessoas precisam ser acordadas. É muito importante, se uma pessoa está dormindo por muito tempo, você, de repente, fazer uma ação vigorosa para que a pessoa se levante.”

“O Amor Vagabundo” (edição ilustrada)

 

amor

 

 

A edição ilustrada do romance publicado em 2016 traz alguns desenhos que eu fiz de lá para cá que têm relação direta com a história do livro, além ainda de uma brevíssima coletânea de poemas curtos inspirados nos personagens.

Por enquanto essa edição só está disponível no formato pdf, e não há previsão de ela ser ou não publicada em formato impresso.

>>>> Para fazer o download do arquivo pdf do livro e assinar a newsletter do blog, clique AQUI. Assinando a newsletter você pode receber conteúdo exclusivo no seu e-mail, poemas, ilustrações, promoções e releases de futuros lançamentos.

>>> A edição ilustrada não está mais disponível, mas você ainda pode ter acesso à edição comum AQUI.

 

 

“O Amor Vagabundo” (pré-venda)

Meu livro, “O AMOR VAGABUNDO”, está em pré-venda. Se você comprá-lo até o final de agosto, você receberá o exemplar em sua casa em setembro. Para comprar o livro ou saber mais informações, entre em contato comigo pelo meu e-mail: victorbarbosa2828@gmail.com.

Como vai funcionar a pré-venda: você deposita o valor do livro + o valor do frete na minha conta até o dia 31 de agosto; em setembro você recebe o livro em casa com dedicatória.

“O Amor Vagabundo” é um romance com viés homoerótico construído por meio de fluxos de consciência; uma mistura de prosa poética, monólogos, conversas com uma voz interior e relatos sexuais envolvendo uma porca que vive na área de serviço de um apartamento.

Sinopse: Preso em um quarto, um rapaz obcecado por bundas conta ao seu amante as memórias de sua jornada sexual, desde encontros com outros homens em banheiros públicos, passando pela busca do sexo na internet, até envolver-se em um caso amoroso sadomasoquista com o ouvinte dessas memórias. Em meio a isso, surge uma voz interior que entrecorta o discurso do narrador-personagem. Num tom confessional, com cenas de sexo que beiram o escatológico e o grotesco, a narrativa condensa diversos monólogos através de uma tênue linha que separa lirismo e pornografia.

O livro vai estar disponível nos formatos impresso e e-book a partir do dia 14/09.

Novo livro: “O Bolor dos Dias”

Meu terceiro romance, intitulado “O Bolor dos Dias”, será lançado em 01 de maio. Como publicarei o livro de maneira independente, só será possível adquirir os exemplares – versão impressa e digital – pela internet.

A seguir segue a sinopse da obra, e em breve trago mais novidades sobre o livro.

“Uma cuidadora de idosos que trabalha para uma grande artista adoecida. Um garoto decidido a encontrar o pai que nunca conheceu. Uma escritora tentando encontrar uma forma de superar a morte da filha. E um professor de meia idade que enfrenta uma crise depressiva. Imersos em uma realidade catatônica, cada personagem dialoga com o outro através de situações banais que acabam por entrelaçar todas as quatro vidas, como numa obra do acaso. Essas vidas tão distintas acabam se encontrando num cenário que as une, fazendo com que seus passados e presentes definam um futuro desconhecido.”

Lançamento do livro “A Hora da Alva”

O romance “A Hora da Alva” será lançado no dia 18 de outubro, quinta-feira, no Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté às 19h30.

“Lançamento da obra inaugural do jovem romancista João Victor Barbosa, estudante do curso de Letras da UNITAU, promessa da Literatura nacional. Sua prosa intimista é eivada de elementos líricos no trabalho com a memória, à qual se dedica com um preciosismo e um detalhismo exemplares.”

Imagem

18/10 – quinta-feira, 19h30 – 21h00